Os saques líquidos da poupança vêm registrando recordes. O mais recente deles foi no mês de fevereiro, quando as saídas de R$ 11,5 bilhões foram recordes para o mês na série histórica do Banco Central, iniciada em 1995. Em janeiro deste ano não chegou a bater recordes, mas ainda foram R$ 33,6 milhões a mais de saques do que de depósitos.
As retiradas também foram recordes no balanço de 2022. Os resgates somaram R$ 103,2 bilhões, quase o dobro da maior perda anual já registrada até então, divulgou o Banco Central.
Segundo especialistas, a taxa de juros elevada, o endividamento população e a sazonalidade explicam o volume resgatado registrado pelo Banco Central (BC).
“Hoje a poupança não remunera bem. Nesse contexto, vemos títulos públicos, fundos e outros que rendem mais próximo da Selic. O amadurecimento de parte do público tem feito com que as pessoas não queiram deixar o dinheiro nessa se existe uma alternativa melhor”, diz Juliana Inhasz, economista do Insper.
O rendimento da poupança está atrelado à taxa de juros e funciona da seguinte forma: se a taxa Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da modalidade será de 0,5% ao mês, mais a variação da taxa de referência (TR). Se a taxa estiver igual a ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR.
Atualmente, a taxa básica de juros está em 13,75% ao ano, maior nível desde 2016. No início de 2022, a Selic era de 9,15% ao ano.
A perda de competitividade perante outros títulos, segundo especialistas, pode explicar parte dos saques. Outra explicação está na inadimplência. Os dados mostram que o número de brasileiros endividados cresceu e muitos utilizam o dinheiro poupado para colocar contas em dia.
“As famílias estão endividadas. Temos uma elevação da taxa de juros que a economia demora para sentir. Então estamos sentindo ainda o efeito dos juros que estão subindo. Nos próximos meses que dará a sensação de estabilidade, mas uma estabilidade dos juros altos. Logo, as famílias que já tinham dívidas, o preço dessa dívida aumentou”, comenta Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.
Dados da Serasa Experian apontam que, em cinco anos, o número de brasileiros inadimplentes passou de 59,3 milhões, em janeiro de 2018, para 70,1 milhões, em janeiro de 2023, um recorde na série histórica.
O valor das dívidas também cresceu. Em média, cada inadimplente deve R$ 4.612,30. Em janeiro de 2018, era R$ 3.926,40. Houve um crescimento de 19% no período.
A economista explica que em um contexto de normalidade, a concessão de crédito tem relação positiva com o crescimento econômico, uma vez que isso demonstra maior consumo, financiamento de imóveis e uma economia aquecida.
Contudo, a especialista diz que nos últimos meses “temos visto que o pior tipo de crédito tem subido. É aquele crédito do rotativo do cartão, do cheque especial, de todo tipo de parcelamento para uma pessoa endividada. Não é aquele mais sustentável. As famílias estão endividadas”.
Como um último ponto levantado por especialistas, está uma questão de sazonalidade. No início do ano, segundo eles, muitos brasileiros recorrem ao dinheiro poupado para auxiliar no pagamento de impostos e reajustes escolares. Todos comuns aos primeiros meses do ano.
“Isso é muito comum no começo do ano, pois no fim do ano existem gastos com alimentação, presentes e viagens. E, no começo do ano, como o rendimento é relativamente baixo, as pessoas tiram o dinheiro da poupança para cobrir dívidas e prestações”, diz Simão Silber, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Ao longo do ano passado o BC deu continuidade ao ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021, quando a taxa básica de juros estava em 2%, menor nível da história. A taxa foi elevada em 4,5 pontos percentuais.
Na quarta-feira (22), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75%.
Compartilhe: