Foram pelo menos 1.900 km de viagem que a adolescente de 15 anos resgatada de exploração sexual no Território Yanomami percorreu sem saber o que encontraria ao chegar.
Ela saiu do interior do Maranhão com a promessa de ser cozinheira em Roraima, mas não sabia que já estaria endividada ao chegar e teria dificuldades para sair.
A CNN teve acesso à informações da investigação da Polícia Federal contra grupos de aliciadores de jovens no estado.
Segundo apuração nos três inquéritos em andamento, nem sempre os convites de emprego são para serem cozinheiras.
Há, também, convites diversos e até mesmo explícitos para trabalhar na prostituição.
O que elas não sabem, segundo a PF, são as condições de ida e do trabalho no local.
De acordo com a delegada Marianne Rodrigues, os aliciadores cobram em ouro a viagem para transportar as novas contratadas, o que gera uma dívida inicial de cerca de R$ 3 mil.
“Elas não sabem disso. Já chegam no garimpo endividadas e precisam trabalhar para pagar”, detalha.
Em depoimentos, as vítimas relatam que moravam em quartos, chamados de “fuscões”, feitos de lona, “sem aparato ou dignidade”, diz a investigadora à CNN.
“Elas arcam com internet, comida semanal, higiene pessoal. São situações degradantes. Para se ter uma ideia, custa R$ 100 um item de higiene pessoal, R$ 50 um cigarro”, exemplifica.
Com isso, segundo a PF, as aliciadas contraem dívidas numerosas até um momento que não conseguem mais pagar e acabam ficando na região — a contragosto.
“Até para sair tem que pagar o transporte. Ou seja, tem que quitar a dívida da ida, as dívidas acumuladas lá e ainda pagar a volta para casa. Algumas dívidas podem chegar a R$ 10 mil”, conta a delegada federal Marianne.
Os aliciadores já investigados, em sua maioria, são de outros estados, como Maranhão e Pará.
Já as jovens da região Norte, conforme mostram as apurações, e muitas da Venezuela, que faz fronteira com Roraima.
Já foram três vítimas resgatadas até o momento, de 15, 17 e 19 anos. Segundo a delegada Marianne Rodrigues, há outras áreas investigadas, mas as três onde elas foram resgatadas estão como foco.
“Desde o resgate da menina de 15 anos, nós intensificamos as investigações contra exploração sexual nesses garimpos ilegais e a gente começou a descobrir novas organizações criminosas voltadas para para a exploração sexual e prostituição. Duas pessoas foram presas. Outras pessoas estão com mandado em aberto sendo procuradas”, esclareceu a investigadora à CNN.
As vítimas resgatadas, em sua maioria, voltam para casa e a PF dá suporte juntamente com conselhos tutelares, com apoios psicológico e financeiro.
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