Fim do sigilo de depoimento do assassino de Marielle revela detalhes

O ex-policial militar Ronnie Lessa, réu confesso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, detalhou, em novos depoimentos de delação premiada, a execução do crime, no Rio de Janeiro, em 2018.

Concedidos em agosto do ano passado, os depoimentos foram divulgados nesta sexta-feira (7), pelo Supremo Tribunal Federal, após o ministro Alexandre de Moraes retirar o sigilo das oitivas ainda não divulgadas.

Em trechos de um manuscrito feito por Lessa, e também em depoimento por vídeos à Justiça, ele relata que os irmãos Domingos Brazão, então conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, e Chiquinho Brazão, deputado federal pelo União, seriam uma “carta branca” ou seja, uma garantia para o bom desfecho do atentado contra Marielle Franco. E afirma que houve três encontros com os mandantes do crime –dois antes e um depois da execução.

Segundo Lessa, o delegado Rivaldo Barbosa teria atuado para proteger a ele e aos irmãos Brazão da investigação depois do assassinato, atrapalhando as investigações propositalmente. Atualmente, os quatro estão presos.

O ex-policial acrescentou que foi atraído a participar do atentado, porque viria a se beneficiar de um grande loteamento previsto para a região de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Seriam dois grandes terrenos. Um deles seria dos mandantes. O outro, a ser dividido entre Lessa e o policial Macalé, assassinado em 2021. Depois do empreendimento pronto, ele ainda poderia administrar milícias que fariam a exploração de negócios milionários nas futuras comunidades.

Com influência na população da região, Marielle tornou-se alvo do grupo porque estaria atrapalhando a continuidade do projeto.

Sobre a execução de Marielle, Lessa conta que monitorou por três meses a rotina da vereadora e teve dificuldades iniciais para realizar o homicídio. Segundo Lessa, primeiro Marielle foi seguida até um bar que ela costumava frequentar, mas o local era arriscado para um atentado. Outra acusação dele é de que, depois de sua prisão e confissão, foi divulgada pelos mandantes a ideia de atribuir a Lessa a motivação de crime de ódio contra a vereadora. A defesa dos detidos nega todas as acusações.